
A cozinheira Larissa foi cobrada da taxa por ‘demorar’ para parir (Foto: Kalu Brum/Olhar Mamífero)
O Hospital Sepaco, em São Paulo, tem cobrado uma taxa extra das parturientes que “demoram” para parir na unidade de saúde. Essa cobrança acontece com quem fica mais de seis horas na ala do centro obstétrico, onde estão as chamadas salas PPP (pré-parto, parto e pós-parto). Duas parturientes que tiveram seus bebês na unidade de saúde em fevereiro relatam que não foram informadas previamente da cobrança.
O Sepaco conta com duas salas PPP (pré-parto, parto e pós-parto), um pré-parto coletivo e duas salas cirúrgicas que às vezes é usada para os partos quando as chamadas PPPs estão ocupadas. A cobrança passa a contar, segundo profissionais que atendem na unidade, a partir do momento que a mulher entra na ala do centro obstétrico o que acontece quando ela precisa de uma indução ou se já está na fase ativa pois não pode ficar no quarto neste período. Somente no quarto o ‘taxímetro’ não começa a correr para que a cobrança seja feita, segundo apuração da reportagem.
O hospital diz que usar essas salas “tem custo e este custo não pode ser absorvido pelo hospital, portanto quando a paciente opta por estar lá mais que o tempo preconizado, tem que ter ciência que isto lhe acarretará uma cobrança, que é o que vem acontecendo”. Em nota, o hospital diz ainda que as pacientes “devem ser encaminhadas a estas salas somente quando estiverem com a dilatação próxima a necessária para o parto expulsivo”. (leia no final do texto a íntegra da nota do Sepaco enviada à reportagem).
A cozinheira Larissa Oliveira Lemes , 32 anos, conta que chegou na maternidade no dia 5 de fevereiro com 6 para 7 centímetros de dilatação. Mas, como era o primeiro bebê, Gael nasceu somente à 0h15 do dia seguinte. “Demos a entrada na internação e não falaram nada sobre essa cobrança. Depois do parto, por volta das 2h da madrugada, deram papéis para o meu marido assinar, mas estava tão cansado que nem leu”, conta Larissa, que teve um parto difícil onde o bebê precisou ser oxigenado gerando bastante apreensão aos novos pais.
Cerca de um mês após o parto, um funcionário do hospital ligou para pedir o e-mail para ser enviada uma taxa de cobrança que estava pendente. “Chegou um boleto de R$ 1.800 e ficamos desesperados pois tínhamos nos programado para as despesas do parto e o hospital estava incluso na cobertura do plano de saúde”, conta a paciente. Ela conta que questionou a cobrança e foi informada que iriam “sujar o nome” caso não fosse pago dentro da data estipulada. “Como foi no começo da quarentena, não pagamos e fomos atrás do convênio que disse que não iria pagar também. Tivemos que recorrer para a ANS que enfim derrubou a cobrança”, comenta Larissa.
Já a designer de interiores, Ariane Oliveira, 34 anos, ainda está com a cobrança pendente e sem saber o que fazer. Ela conta que entrou na maternidade para fazer uma indução no final de fevereiro. Ela conta que o parto durou aproximadamente 7 horas e em nenhum momento foi falado da taxa. “Fiquei em uma sala com outras quatro mulheres, nada privativo e nada agradável estar em trabalho de parto com outras mulheres e me fizeram essa cobrança. Ainda não pagamos e estou vendo quais as opções para me livrar desse boleto”, comenta Ariane, mãe do Theo.
A enfermeira obstetra Karina Trevisan, da Commadre, explica que o tempo de parto é variado mesmo com a gestante chegando à maternidade em trabalho de parto avançado. “Não tem como precisar o tempo. Dizem os livros que o parto demora de 12h a 18h, mas na minha experiência varia muito. Já atendi parto de 2 horas e o meu próprio trabalho de parto e parto foi ao todo de 36 horas”, diz.
O tempo, explica ela, é muito variado e não é possível colocarmos as mulheres em uma medida, delimitar tempo. “É um absurdo ter essa taxa para um país que diz que quer reduzir a taxa de cesariana. É mais uma despesa e dificuldade para quem quer parir”, relata.
CONFIRA NA ÍNTEGRA A NOTA DO HOSPITAL:
O Hospital Sepaco faz parte do Programa Parto Adequado desde a sua implantação pela ANS, em 2014, apoiando o parto normal e investindo desde então recursos financeiros expressivos para viabilizá-los, tanto no tocante a estrutura física quanto equipamentos e recursos humanos.
3 Comentários
Estão querendo transformar os hospitais em drivethr agora? Entra pela porta da frente com o barrigão e após fazer o pedido, sai pelos fundos com a criança nos braços…… Que ridículo. Fim do mundo. Até os hospitais estão querendo ganhar mais do que o necessário….😧
Interessante, o hospital se refere ao tempo excessivo como uma opção. Com certeza as mulheres em trabalho de parto optam em ficar horas e horas neste ambiente que aparentemente não tem nada de acolhedor. Péssima gestão.
Com toda certeza mulheres pagariam até mais para ter um atendimento apropriado, mas o hospital prefere ganhar dinheiro com “taxas”, aprenderam direitinho com os políticos governantes deste estado.
Triste ver que o parto que é uma momento tão simples e natural se tranformou simplesmente em interesses financeiros, e o pior é que a maioria das mulheres caem nessa armadilha achando que estão fazendo o melhor e na maioria das vezes influenciadas pelos obstetras que tanto confiam, mas que na verdade acreditam naquela frase que diz: Tempo é dinheiro.