
A placenta é um órgão que se desenvolve com o feto e é responsável por nutrir o bebê enquanto ele está dentro da barriga da mãe. Ela também é responsável em produzir substâncias que têm funções diversas na manutenção da gestação e, assim que o bebê nasce, ela perde a sua utilidade.
A dequitação da placenta é a terceira fase do parto normal (a primeira é durante o trabalho de parto que o colo do útero afina e dilata totalmente e o segundo é quando acontece o nascimento do bebê – período expulsivo). Na cesárea, a placenta também é retirada logo após o nascimento do bebê. “Acredito que por nascer com o bebê, ter essa associação com a nutrição, a proteção, a ‘casa’ do bebê dentro do útero, acaba se desenvolvendo essa mística em torno, bem como rituais derivados dela”, comenta Maíra Libertad, parteira domiciliar do Coletivo de Parteiras, no Rio de Janeiro.
Muitas mulheres nem querem saber da existência da placenta e o destino para a grande maioria é o lixo. Outras optam em guardar e plantar como uma árvore, por exemplo, em um lugar especial para a família. Já algumas mulheres que optam pelo parto humanizado gostam de guardar uma espécie de carimbo que é feito com a placenta em um papel. Maíra explica que doulas ou parteiras usam tintas para que a mãe guarde uma imagem da placenta, que também é chamada de árvore da vida.
Sobre ingerir o órgão após o parto, a parteira urbana disse que isso é muito raro no Brasil mesmo em partos domiciliares. “Só atendi quatro famílias que ingeriram a placenta, cada uma de uma forma: cozida junto com outros alimentos, batida com suco, crua sem nenhum outro preparo ou acompanhamento e em cápsula”, diz.
A placenta pode ser encapsulada depois de ser desidratada e moída. “Também não há estudos sobre o benefício de ingerir a placenta assim, mas é uma prática comum em países como Canadá e EUA”, explica. No Brasil existem profissionais que fazem isso, por exemplo, em Brasília e no Rio. “Essas pessoas retiram a placenta com a mulher, fazem a preparação e depois entregam as cápsulas. Mas as mulheres e famílias podem fazer elas mesmas, há inclusive tutoriais na internet”, diz.
A parteira explica que não existem estudos investigando os benefícios ou riscos da ingestão da placenta. Ela lembra que várias fêmeas comem a placenta após o parto e acredita que a observação dos animais possa ter despertado o interesse de algumas mulheres pelo consumo do órgão, como a apresentadora e chef de cozinha Bela Gil, que disse ter consumido parte da placenta misturada com vitamina de banana. Em entrevista para a “Veja Rio” ela disse que a placenta é “uma fonte incrível de nutrientes” e que a filha mais velha, Flor, também consumiu.

Maíra comenta que não dá para afirmar sobre se há ou não benefícios do consumo da placenta in natura ou em cápsula. “Se não há prova de malefício do consumo da placenta, acho inadequado que profissionais proíbam ou contra-indiquem. Tecnicamente, cientificamente, não é possível alegar que faça mal (ou bem), então entendo que é uma questão do âmbito cultural, de foro íntimo, que a família tem o direito de fazer, se assim desejar. No mundo todo há culturas com rituais relacionados à placenta, como por exemplo enterrar embaixo da cama onde o bebê nasceu, em áreas rurais da Ásia, para garantir saúde e sorte pro bebê”.
A parteira ressalta que é um direito da mulher fazer o que ela bem entender com sua placenta. “No hospital, ela pode solicitar a placenta se quiser. Os hospitais que atendem partos humanizados já sabem que muitas mulheres desejam levar sua placenta e eventualmente os profissionais até perguntam – tanto em maternidades particulares quanto públicas”, afirma.
As mulheres que querem levar a placenta para casa devem especificar isso no plano de parto e, inclusive, questionar sobre como poderá mantê-la, já que é preciso que fique na geladeira. “Alguns lugares não possuem geladeira e, nesse caso, algum familiar deve levar a placenta para casa logo após o parto para congelar até decidir seu destino”, diz.
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3 Comentários
Muito interesante a matéria. Recém-formada em Enfermagem Obstétrica, fiz o projeto Rondon em áreas rurais de Mato Grosso. Uma viagem de quarenta dias, em que estudantes de varias áreas da saúde assistiam famílias sem assistencia. Realizamos muitos partos normais a luz de velas e convivi com famílias e suas crendices. A placenta deveria ser enterrada em um local onde a familia nao transitasse e os país precisavam percorrer longas distancias para encontrar o local apropriado e muitas vezes, durante a madrugada.
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