Doula não é acompanhante; entenda a importância de ter uma no seu parto

0
Gestante recebe massagem de doula (Foto: Coletivo Buriti - Fotografia de Parto Humanizado)

Gestante recebe massagem de doula (Foto: Coletivo Buriti por Bia Takata)

O papel da doula e sua importância para uma mulher em trabalho de parto ainda são assuntos pouco conhecidos, inclusive por médicos.  Ao contrário do que muitas pessoas pensam, elas não fazem nenhum tipo de procedimento médico ou de enfermagem. Estão ali para dar apoio emocional, físico e até afetivo para a gestante e seu companheiro.

As doulas também não estão lá para ocupar o lugar do marido da parturiente, que é o único acompanhante de fato na hora do parto. A doula ajuda o casal já que para o pai aquela também é uma experiência nova e, muitas vezes, ele não sabe como ajudar a própria mulher enquanto ela sente as dores das contrações.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o médico César Fernandes, 64, criticou o trabalho das doulas e disse que o marido é o acompanhante ideal na hora do parto.

Fernandes, que assumiu em janeiro a presidência Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, demonstrou desconhecimento no que de fato fazem as doulas e os benefícios que elas oferecem às parturientes. Ele afirmou ainda na entrevista que há muitos relatos de mal estar entre doulas e obstetras pois elas não conhecem o seu papel e interferem no ato médico.

A  médica obstetra Juliana Giordano Sandler discorda de Fernandes e diz preferir atender partos com doulas pois a paciente fica mais segura. “As doulas têm uma ligação forte com elas. São elas que orientam a escolher o melhor hospital, a equipe, enfim, ajudam a entender todo o processo do parto. Com isso, elas reduzem as ansiedades naturais dessa fase”, explica a médica.

Doula ajuda gestante durante contração (Foto: Coletivo Buriti)

Doula ajuda gestante durante contração (Foto: Coletivo Buriti por Bia Takata)

Juliana, que é médica humanizada, diz que nunca teve nenhum tipo de desentendimento com as doulas e que a maioria das pacientes conta com a ajuda delas. “Cada um faz seu papel e a doula não faz nada técnico, ou seja, não há como ter rixa”, diz a obstetra. A médica diz que quando há um desfecho não planejado, como uma cesárea intraparto, a doula ajuda a confortar e acalmar a paciente.

A obstetra Dolores Nishimura diz que nem sabe mais trabalhar sem as doulas. “Elas ajudam a mulher a lidar com a dor, com os medos e as expectativas. O trabalho delas faz muita diferença e nunca vi uma doula interferir na parte técnica do parto”, diz Dolores, que também tem um baixo índice de cesáreas em seus atendimentos.

O QUE FAZ A DOULA?

A palavra doula vem do grego e significa “a mulher que serve”.  As doulas ajudam a fazer massagens para aliviar as dores na contração e orientam nas posições que podem dar mais conforto para as mulheres nesta hora.

Durante o trabalho de parto, normalmente elas são as únicas pessoas que estão o tempo todo com o casal já que a maioria dos obstetras só entra na sala de parto quando já está na fase ativa do trabalho de parto.

As doulas também incentivam suas doulandas com palavras de apoio dizendo, por exemplo, que a cada contração o bebê está mais perto de estar nos seus braços ou dando uma ajuda simples e que na hora faz muita diferença, como preparar um lanche para a futura mãe ou encher a banheira para ela entrar na água e aliviar as dores.

O papel delas dentro de um parto é de extrema importância já que estudos mostram redução de 50% nas taxas de cesariana, redução de 20% da duração do trabalho de parto e diminuição em 60% do pedido de anestesia. Diversos estudos mostram que a presença dessa profissional também ajuda a diminuir a necessidade de intervenções como uso de  fórceps, ocitocina e episiotomia (corte no períneo), além de aumentar a satisfação da mulher com a experiência do parto.

No Brasil, existem as profissionais voluntárias – que normalmente atendem em hospitais públicos – e as que cobram pelo serviço. O valor pode variar bastante e chega a ser  simbólico pelo grande período que elas dedicam à parturiente.

Qualquer pessoa pode ser doula, ou seja, não precisa ser uma profissional ligada à área da saúde, mas é preciso fazer um curso e se cadastrar nos hospitais antes de poder acompanhar um parto. Em São Paulo, o Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) oferece esse curso e, em Campinas, há o curso chamado Revelando Doulas. Mas, quem tiver interesse em entrar nessa área deve saber que não há fins de semana, feriados, afinal,  poderá ser acionada a qualquer hora da madrugada por uma mulher em trabalho de parto.

Doula dá apoio emocional para gestante (Foto: Coletivo Buriti)

Doula dá apoio emocional para gestante (Foto: Coletivo Buriti por Bia Takata)

Compartilhe!

Comments are closed.