
O obstetra Ricardo Herbert Jones, um dos principais nomes no país quando o assunto é parto humanizado, teve seu CRM (registro profissional) cassado após atender um parto domiciliar em Porto Alegre (RS) ocorrido há seis anos. A decisão é do CFM (Conselho Federal de Medicina) e, segundo a entidade, não cabe mais recurso.
O médico explica que o parto aconteceu na casa da paciente e que, por razões de segurança, o bebê foi transferido e que chegou em boas condições de saúde ao hospital, no entanto, morreu 24 horas depois. “Não houve atropelos nem atitudes precipitadas”, diz o profissional.
O atendimento, ainda segundo o médico, respeitou os mais rigorosos protocolos europeus de atenção ao parto domiciliar. “Infelizmente o CRM do meu estado mantém-se na caça [sic]aos profissionais que atendem parto fora do hospital, imaginando com isso poder atingir o soberano direito das mulheres de escolher o lugar de nascimento de seus filhos. A punição máxima de exclusão – para muitos juristas inconstitucional e, portanto, ilegal – visa atingir as lutas pela humanização do nascimento”, diz o médico, que fez um longo desabafo em sua página no Facebook. A reportagem falou rapidamente com o profissional que está em viagem no exterior. O Mães de Peito não conseguiu contato com a família do bebê.
Em sua publicação, o médico diz ainda que a punição tem o objetivo de atingir não apenas o profissional, mas suas “ideias e sua luta contra a violência obstétrica e o abuso de cesarianas”. Vale ressaltar que em países como Inglaterra e Holanda o atendimento de parto domiciliar planejado faz parte das políticas públicas e ocorrem porque são embasadas em pesquisas sérias que atestam sua segurança para gestantes de baixo risco.
O CFM diz que o parto normal deve acontecer preferencialmente em ambiente hospitalar, mas não proíbe que os profissionais atendam partos em casa. Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que a mulher deve escolher onde se sente mais segura para ter seu filho.
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A decisão do CFM gerou uma grande revolta nos ativistas do parto humanizado que lançaram uma campanha #EuApoioRicJones. A obstetriz Ana Cristina Duarte, do Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa), diz que esse é mais um caso de perseguição dentro do movimento de humanização do parto.
“Todos os dias verdadeiros erros acontecem e são amenizados pelas corporações em maternidades de todo o país. Todos os dias médicos atendem em maternidades sem condições, maternidades sem plantão, atendem alto risco em maternidades sem UTI, etc, sendo que não há qualquer tipo de consequência tanto para quem pratica sem as condições como para quem dirige essas instituições. A punição seletiva a médicos que atendem dentro da proposta de humanização da assistência é uma forma de manter o status quo da assistência. É mais uma forma de calar os médicos que ousam mostrar, na prática, o quanto a assistência tradicional está errada”, afirma.
Jones diz que está tomando as medidas judiciais para tentar reverter a decisão. “Este julgamento não se resume a um caso médico; para além das questões clínicas existe uma batalha POLÍTICA envolvendo a disputa entre dois modelos conflitantes. De um lado o paradigma médico que não reconhece as necessidades físicas, psíquicas, emocionais, psicológicas e espirituais das gestantes, considerando o parto um ato que se pareia a qualquer outra intervenção médica, onde o paciente é passivo e o médico o ator principal. De outro lado está o novo modelo, baseado nos direitos humanos reprodutivos e sexuais e que AGREGA ao atendimento seguro a atenção centrada na mulher, reconhecendo seus direitos e seus desejos em relação ao nascimento de seus filhos”.
O CRMRS (conselho de medicina do Rio Grande do Sul) diz que o médico não fez o partograma (onde são anotados dados como a evolução do parto) nem o prontuário da paciente e do bebê. Procurada pelo Mães de Peito, a presidência do Cremers afirma que o julgamento em questão foi longo, com direito a ampla defesa e recursos. “O resultado foi homologado em todas as instâncias do sistema de conselhos, inclusive e principalmente no Conselho Federal de Medicina”, diz o conselho.
O médico garante que fez todas as anotações no prontuário e que entregou o partograma para a entidade, mas que o mesmo não foi aceito por estar sem a sua assinatura. “O partograma utilizado é o mesmo que consta na pasta do hospital onde eu atendia na época, e nele não consta lugar para assinatura. Fosse levada a sério essa negativa e todos os médicos que atenderam pacientes naquela época deveriam ser punidos”, diz o médico com 34 anos de experiência e mais de 2.000 partos no seu currículo.
OUTROS CASOS
Em setembro, uma médica em Campinas, no interior de SP, também teve seu CRM suspenso por seis meses. No caso dela, que pede para não ter seu nome divulgado, ainda cabe decisão, mas a suspensão cautelar foi tomada sem que a profissional tivesse direito a julgamento, que vai ocorrer somente após ela ficar o semestre sem exercer a profissão.
Médicos humanizados também são descredenciados de algumas maternidades particulares o que limita os locais onde podem atender suas pacientes. Em 2012, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) exigiu que o Cremesp (conselho em SP) punisse o obstetra Jorge Kuhn por defender o parto domiciliar em entrevista à Rede Globo punição de um obstetra que defendeu o parto domiciliar em entrevista à TV Globo. Centenas de mães, gestantes, doulas, obstetrizes fizeram protestos em diferentes capitais contra a decisão.
9 Comentários
Em Cuiabá recentemente um médico que atende parto normal, partos pélvicos e gemelares . Partos em larga escala foi desligado do hospital que trabalhava há anos ! Caminhar contra o sistema está sendo triste 😩
Alguma coisa parece obvia, num pais que nao tem nem condiçoes hospitalares de realizar partos, alguem vai querer realizar partos em casa, dizendo que é vontade da mãe, elas não tem condições de escolher isso, definitivamente….
Ernane, você obviamente não sabe o que está falando e deve ser mais uma dessas que acredita em tudo que o médico fala e o sistema impõe, não lê, não se informa e muito menos sabe as diferenças de parto para falar uma asneira dessa. Como uma mulher não pode escolher onde quer ter seu filho? Muito melhor ter seu bebê no conforto de seu lar, acompanhada de seu parceiro, com uma equipe em que confia ou ate mesmo o seu médico que queira fazer parto domiciliar sendo respeitada ao invés de ter em ambiente hospitalar e sofrer os diversos procedimentos DESNECESSÁRIOS e ultrapassados e ainda “dependendo” da sorte e da equipe que encontrar sofrer violência obstétrica (mas claro que isso você nunca ouviu falar né? Por isso nem ouso a me aprofundar, não vale a pena).
Só pra você saber o Brasil é campeão de cesárea, a taxa de cesárea é a segunda MAIOR DO MUNDO! Aumentando a entrada de bebês em UTI neonatal, por complicações respiratórias (não estavam prontos para nascer e foram arrancados antes do tempo) prejudicam a amamentação, pode gerar outros problemas de saúde p/ o bebê e infecções na mãe. Lógico, que se feito de maneira correta ela salva vidas e é muito importante sim. Mas, o parto normal/natural é o mais seguro, para mãe e bebê e trará inúmeros benefícios para os dois.
na verdade, eu tive meu parto acompanhado pelo dr ricardo num hospital, e não em casa, como eu queria por indicação dele, após constatar que meu parto seria complicado.
devo dizer que durante toda a gestação não houve somente o prénatal. mas um curso com pais e mães presentes, junto com uma enfermeira obstetrica com outros 30 anos de experiência e uma doula. curso este que explicava a biologia e a psicologia do parto.
Não é uma decisão de ultima hora. aliás, eles só concordavam com um parto em casa vendo que o ambiente é ok, o acesso a hospitais será facil para qualquer emergencia, que o bebê e a mãe estão em plena saude e que não haverá ninguem atrapalhando o ambiente ou incomodando a gestante. fora que era particular, então já reduz o numero de pessoas com acesso a isso a um grupo quase no topo da piramide economica.
ou seja, a familia, depois de 9 meses aprendendo sobre o processo, tem sim condições de escolher. morte no parto acontece, mas va lá… 30 anos e 1 obito. algumas coisas são obvias, o corporativismo médico não quer perder a boquinha do parto hospitalar.
*corrigindo a virgula:
…tive meu parto acompanhado pelo dr ricardo num hospital, e não em casa como eu queria, por indicação dele…
NÃO É SÓ UMA MORTE…O DR JONES TEVE UMA mãe QUE MORREU DE PARTO DEVIDO À SUA NEGLIGENCIA E FOI CONDENADO POR ISSO NA ÉPOCA, MAS NÃO DE FORMA TÃO DURA COMO A CASSAÇÃO DO DIPLOMA….TALVEZ POR CAUSA DESTE ANTECEDENTE A PENA FOI TÃO DURA NESTE CASO…É SÓ PROCURAR NO GOOGLE… wp.clicrbs.com.br
lamantável……quando gestantes tem seus filhos nos corredores de hospitais em situações precárias isso não tem responsáveis………..lamento a cassação de Dr. Jones……injusto..
Parabéns ao CREMERS. Basta de glamour, façamos a coisa certa, parto, tem ser em local adequado. E um grande alerta a população brasileira, quem está induzindo todos ao erro, são ONGs. Essas ONGs, estão fazendo intrigas entre nós brasileiros, e o golpe atual, é usar crianças(vide os ativistas anttiabaco, são expert nessa enganação). Essas ONGs usam muito também, palavras como “triste” “infelizmente” etc, para jogar todos contra as instituições. Portanto, começem a ficar alertas, principalmente com ONGs, essas são o terrivel problema da sociedade atual. Não se iludam, não se deixem enganar por glamour.
Perfeito comentário. Esse médico não foi perseguido, como afirma. Foi punido por homicídio!