A primeira semana de agosto é celebrada a SMAM (Semana Mundial do Aleitamento Materno) e, neste ano de 2022, o tema é focado na importância do apoio e da informação para que mais bebês sejam amamentados até o sexto mês de vida de forma exclusiva e, de forma complementar, até os dois anos ou mais.
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019), encomendado pelo Ministério da Saúde, mostra que metade das crianças brasileiras são amamentadas por mais de 1 ano e 4 meses. E, também, que no Brasil quase todas as crianças foram amamentadas alguma vez (96,2%), sendo que dois em cada três bebês são amamentados ainda na primeira hora de vida (62,4%). No entanto, os dados mostram que menos da metade (45,8%) dos bebês mamam exclusivamente leite materno nos primeiros seis meses.
Mas, a culpa por termos tão poucas crianças amamentadas é por conta da publicidade mascarada que ocorre de tantos produtos que prejudicam o aleitamento materno. São raros os pediatras que vão indicar para uma mãe uma consultora de amamentação, mas a grande maioria está pronta para prescrever uma marca de leite artificial assim que surgir a primeira dificuldade. A indústria do leite é tão presente que patrocina, inclusive, congressos em resorts no Nordeste e uma das principais marcas faz publicidade no site da própria sociedade que representa os pediatras brasileiros. São essas indústrias também que enviam brindes e representantes aos consultórios deixando amostras e panfletos ao profissional. Agora, vamos refletir: que marca de leite o médico vai lembrar na hora que faz a receita do leite artificial?
Apesar de existir uma legislação vigente, a NBCAL (leia mais sobre ela clicando aqui) que impede a publicidade de chupetas, mamadeiras e afins, as grandes marcas de leite encontraram uma outra maneira de burlar a legislação: enviam kits com leite e presentes para as blogueiras de maternidade, que fazem publicidade – a grande maioria de forma gratuita – para essas marcas. Vale ressaltar que o custo para as empresas é mínimo, no entanto, conseguem atingir o público alvo gastando centavos, afinal, ganham divulgação em troca de envio de produtos, os chamados ‘recebidos’.
Como a internet é terra de ninguém, a divulgação ocorre sem qualquer tipo de fiscalização e a propaganda continua sendo feito apesar das leis e normas vigentes. A mãe que está cansada, com o peito sangrando, sem dormir, sem apoio, vai recorrer ao tal leite que a blogueira que ela tanto admira divulgou – mesmo que a influenciadora divulgue, mas não use o produto nos próprios filhos. Ou o que o pediatra prescreveu, afinal, ele é “médico e sabe o que é o melhor para o meu bebê”.
Fora que nenhuma empresa é realmente amiga/incentivadora da amamentação…e sabe o motivo? Por que amamentar no peito é gratuito, não gera lucros. Se uma mamadeira ou chupeta é introduzida na vida do bebê já pensou que cliente em potencial surge ali? O bebê vai ganhar mamadeiras, depois copinhos, infinitas chupetas, esterilizador de mamadeira, enfim, é uma gama de produtos que essa família passa a consumir.
Esses são apenas alguns dos exemplos que prejudicam e vão minando a confiança – mesmo que não descaradamente – da mulher de amamentar. É preciso destacar que somado a toda publicidade que chega até a essa nova mãe, é cultural da nossa sociedade não tratar a amamentação de forma prioritária. Lembra quando você era criança e brincava de casinha? Quais acessórios vinham com suas bonecas? Não lembra? Vá até uma loja de brinquedos e olhe. A maioria vem com uma mamadeira, uma chupeta ou com os dois ‘acessórios’.
Quando a mulher engravida, os mesmos itens estão como ‘indispensáveis’ na lista do enxoval da maioria das lojas. As mamadeiras indicadas são aquelas caríssimas “que não dão cólica e ainda por cima ‘imitam’ o seio materno”. Chupetas e mamadeiras também são objetos usados para decorar a festinha do chá de bebê e até a lembrancinha da maternidade.
Nos primeiros dias de vida do bebê, a mãe tem muitas dúvidas sobre a melhor maneira de conduzir a criança, seja na hora do banho, nas trocas das fraldas, na limpeza do umbigo ou, principalmente, no aleitamento. A insegurança fala mais alto e a falta de informação qualificada remete aquela mãe ao “socorro” das mamadeiras e chupetas.
Assim que o bebê nasce, em vez de ir para o colo da sua mãe, é levado para o berçário onde recebe um ‘complemento’ – muitas vezes sem o consentimentos dos pais – para que a mãe possa se recuperar, afinal, “ela ainda não tem leite”.
Começa aí as dificuldades e a culpabilização materna para o fracasso na amamentação. Sem orientação correta e cercada por profissionais que não apoiam ou simplesmente não entendem sobre aleitamento materno, o destino dessa mulher é já sair da maternidade com a prescrição do leite de fórmula famoso para dar tantos mls de três em três horas.