Pais que têm filhos com alergia alimentar sabem como é difícil ter informação de quais produtos são ‘limpos’ e podem ser consumidos com segurança. As embalagens normalmente não trazem as informações corretas, mas a tendência é que a situação mude em breve. Nesta quarta-feira (24) a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou por unanimidade uma norma dando o prazo de 12 meses para as empresas do setor alimentício se adaptarem e colocarem todas as informações nas embalagens.
Por conta da pressão por parte dos pais de crianças alérgicas que criaram a campanha na internet chamada Põe no Rótulo (#põenorótulo) as empresas têm que colocar a rotulagem correta dos alimentos com informações claras e com letras em tamanho legível. A norma completa será publicada em breve no “Diário Oficial da União”. “Estará escrito em caixa alta e negrito e as empresas terão, inclusive, de colocar se aquele produto contém traços também, o que é uma grande vitória”, diz uma das idealizadoras da campanha, a advogada Maria Cecilia Cury Chaddad.
Os dados sobre os alergênicos virão logo abaixo da lista de ingredientes. A letra não pode ser menor do que a da lista de ingredientes.
De acordo com a nova resolução, os produtos terão de divulgar a existência de 17 alimentos: trigo (centeio, cevada, aveia e suas estirpes hibridizadas); crustáceos; ovos; peixes; amendoim; soja; leite de todos os mamíferos; amêndoa; avelã; castanha de caju; castanha do Pará; macadâmia; nozes; pecã; pistaches; pinoli; castanhas, além de látex natural.
Ela diz que por enquanto a norma não obriga os produtos de higiene e cosméticos e os medicamentos a colocarem a informação de forma clara, mas que a ideia é que em um futuro próximo essas informações também estejam mais claras nas embalagens.
O processo da elaboração desta norma para regulamentar a rotulagem de alergênicos começou a ser discutida em abril do ano passado. Segundo o diretor da Anvisa, Renato Porto, foi a primeira vez que os consumidores foram até a agência pedir uma norma. “Além de consulta e audiências públicas, tivemos uma intensa participação popular nesta luta”, diz Maria Cecília, que tem um filho de três anos alérgico à proteína de leite e de soja.
“Os representantes da indústria chegaram a alegar que seria uma despesa alta adaptar os rótulos em 12 meses, mas discutimos isso desde abril de 2014. A questão é a saúde dos nossos filhos e o quanto está sendo gasto com medicação, internação. Esses são custos que podem ser evitados”, diz Maria Cecília, que criou o #põenorótulo em fevereiro de 2014.
Estudos de 2009 da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas mostraram que 39,5% reações alérgicas foram relacionadas a erros na leitura de rótulos dos produtos.
Nos EUA as indústrias são obrigadas a prestar esse tipo de informação desde 2006, na União Européia, Austrália e Nova Zelândia, desde 2003, e no Canadá, desde 2011.
REAÇÕES ALÉRGICAS
A advogada explica que o alérgico alimentar corre risco de morte dependendo do seu grau de sensibilidade, com risco de choque anafilático e fechamento de glote, entre outras reações graves.
Os pais além de aprender e tentar interpretar os rótulos dos produtos, são obrigados a buscar frequentemente informações com os serviços de atendimento ao consumidor e que nem sempre passam informações corretas.
Para o grupo de pais do ‘Põe no Rótulo’, os portadores de restrição alimentar poderiam ter mais qualidade de vida se tivessem a informação correta. A alergia alimentar, desde que feita uma dieta correta, possui grandes chances de regredir.
No Brasil, não há levantamentos que mostrem a quantidade de pessoas alérgicas, mas a estimativa é de 8% das crianças e 2% dos adultos. Maria Cecília, que defendeu sua tese de doutorado sobre a presença de alérgenos em alimentos, diz que as principais causas da alergia são consumo excessivo de alimentos industrializados, introdução de leite de fórmula precocemente, nascimentos por cesárea e genética. “Tirando a genética, podemos atuar nas outras causas para diminuir as alergias alimentares nas nossas crianças”, diz.