Muitos casais que estão na fila de adoção estão lá por tentativas frustradas de anos tentando engravidar. Mas, adotar não é fácil. Existe uma grande ansiedade e, muitas vezes, mais um longo tempo de espera até conseguir encontrar o seu filho.
”A adoção tem que ser aceita, entendida, desejada. Não pode ser prêmio de consolação, porque do outro lado existe uma criança que precisa desesperadamente de amor, de acolhimento, como um filho biológico também precisa”, diz a jornalista Ana Davini, autora do livro “Te amo até a lua”. “Se a pessoa não quer adotar, é melhor mesmo não fazer”.
A jornalista comenta que é claro que a análise dos pretendentes a pai deve ser feita com cautela, mas que daria para agilizar todo o processo. “Ainda existem quase 7.500 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, que precisam com urgência de uma família”, diz a mãe de Thalita, que foi adotada em 2013 quando tinha 1 ano e 1 mês de vida.
Ana conta que, como a maioria dos casais, chegou na fila de adoção após anos tentando engravidar naturalmente. “Tentei uma inseminação artificial em 2009 e uma FIV (Fertilização In Vitro) em 2011. Mas como não queria passar por tanto desgaste emocional, físico e financeiro mais uma vez, aceitei na hora quando meu marido sugeriu a adoção”,recorda. A filha hoje está com 4 anos e, por enquanto, o casal não tem planos de aumentar a família.
A jornalista diz que o casal que quer adotar, precisa se preparar muito para isso. “Em primeiro lugar, os cônjuges devem concordar sobre o perfil da criança desejada. Também devem estudar sobre possíveis doenças, a influência do crack. E, por fim, devem participar de grupos de apoio ou conversar muito com outras pessoas que já passaram pela experiência. É um período de muitos questionamentos, conflitos éticos, superação de preconceitos”, relata.
Ela conta que da entrega dos documentos até a chegada da filha foram dois anos e meio de espera. “É um processo burocrático e moroso. Poderia ter demorado cerca de quatro anos, mas nos mantivemos presentes para agilizá-lo. Frequentemente visitávamos a Vara de Infância, consultávamos o andamento no site do Tribunal de Justiça e cobrávamos o cumprimento dos prazos previstos em lei para cada etapa”, comenta Ana, que decidiu escrever o livro para ajudar outras pessoas que estejam pensando em adotar ou que já estejam no meio do processo.
No livro há dicas, por exemplo, de como agilizar a espera, de como passar pelas entrevistas da melhor forma possível, de como definir o perfil da criança sem culpa, entre outros temas.
A mãe de Thalita diz que o amor de uma mãe adotiva é o mesmo de uma mãe biológica. “É imenso e incondicional”.
Para ela, só há risco de um casal se arrepender de ter adotado se não tiver se preparado para isso. “O mesmo vale para uma gravidez. Há risco de um casal se arrepender do filho biológico? Por isso os pretendentes a pais devem ser muito responsáveis, devem concordar sobre a adoção e sobre o perfil da criança. A devolução é um crime, é mais um abandono que nunca deveria acontecer”.
CENÁRIO DA ADOÇÃO NO BRASIL
Atualmente, mais de 46 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no Brasil sendo que apenas 7.640 estão inscritas no Cadastro Nacional de Adoção, esperando uma família. Na outra ponta estão 39.962 pretendentes a pais já habilitados pela Justiça.
A jornalista diz que o grande problema no Brasil para a questão da adoção não ser agilizada é porque não há integração dos sistemas das Varas de Infância nem dentro de uma mesma cidade. “Assim é muito difícil que uma criança da região Sul, por exemplo, chegue até um pretendente do Sudeste, mesmo que esteja dentro do perfil escolhido por ele”, comenta.
Das crianças e adolescentes cadastradas, quase 5.500 têm mais de sete anos, ou seja, essas crianças não têm grandes esperanças de serem adotadas já que a maioria prefere adotar crianças menores. Para Ana, é preciso fazer uma campanha forte sobre adoção tardia e também agilizar os processos judiciais para que as crianças possam ser adotadas e não precisem passar anos a espera de um lar.
Vale lembrar que a Constituição garante a todo brasileiro o direito de ter uma família e que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece um prazo máximo de dois anos para permanência em abrigos. “Mas nada disso está sendo cumprido”, diz Ana. “Há inúmeros adolescentes e crianças crescendo em abrigos até atingir uma idade em que ninguém mais os queira”, lamenta.