
Estudantes do curso de obstetrícia da USP (Universidade de São Paulo) reclamam das condições precárias e da falta de professores na unidade de ensino. O curso, que forma obstetrizes (parteiras profissionais) é o único existente no país e o segundo mais concorrido da USP Leste.
De acordo com os universitários, é necessário a contratação imediata de professores pois há falta de docentes. A estudante Luana Xavier diz que isso representa uma “ameaça ao oferecimento dos estágios obrigatórios para as alunas”. O estágio é a parte prática que é de extrema importância para a formação de qualidade e para que as parteiras obtenham o registro profissional para atender às mulheres integralmente, principalmente, durante a gestação, parto e pós-parto.
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O curso conta hoje, segundo as estudantes, com 16 professores definitivos da área de assistência, além de 10 docentes temporários – que ganham abaixo do piso salarial e representam um dos maiores quantitativos de temporários da USP – e 5 docentes especialistas. “As condições de trabalho são precarizadas e as docentes ministram cargas horárias muito maiores do que o ideal na USP”, relata a universitária. Para oferecer os estágios com qualidade, seria necessária a contratação de mais 24 docentes definitivos ou 10 docentes especialistas.
As estudantes da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) têm feito protestos para exigir melhorias no curso e chamar a atenção da reitoria. A contratação de professores é uma das principais reivindicações das estudantes, já que a falta de docentes representa uma ameaça ao oferecimento dos estágios obrigatórios para todas as alunas, parte prática imprescindível para uma formação de qualidade e obtenção do registro profissional. “Esse cenário compromete seriamente o curso de Obstetrícia pois há a iminência concreta da perda de docentes já no segundo semestre de 2017, ou seja, em dois meses”, relata a universitária e doula Mariana de Mesquita.
Segundo as estudantes, os estágios obrigatórios são firmados por meio de convênios com os serviços de saúde, sendo necessário por lei um professor fornecido pela instituição de ensino para cada campo de estágio. Ainda de acordo com as universitárias, a EACH nunca teve a grade de docentes completa, nem a estrutura desejada para seus cursos.
Tanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) e o Ministério da Saúde recomendaram a maior participação de obstetrizes na assistência ao parto no Brasil. No curso, que tem duração de 4 anos e meio, ingressam 60 novos alunos por ano. “Muitos estudantes estão sendo atraídos pelo curso e, com isso, houve uma grande diminuição da evasão de graduandos e o congelamento das contratações de docentes vai na contramão desse crescimento”, relata Mariana.
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OUTRO LADO
Procurada pela reportagem, a diretora da EACH, Maria Cristina Motta de Toledo, confirmou a falta de docentes e que a situação é “preocupante”. “Há um desconforto em relação ao número de docentes” e que a defasagem no quadro de profissionais ocorre “por conta das dificuldades econômicas”, relata. Segundo a diretora, há em andamento um concurso público para a contratação de mais professores, mas ainda não há previsão de quando a prova será feita nem quando o quadro estará completo.
Maria Cristina comenta ainda que na parte prática do estágio os professores têm que acompanhar um pequeno grupo de alunos para dar mais atenção justamente por ser da área da saúde. “Em uma sala onde aprendem a parte teórica, você pode colocar 40 alunos, mas na prática não. Com isso, os professores têm trabalhado mais horas e temos chamado professores temporários para atender a demanda. Sabemos que tanto professores como os alunos estão descontentes e que estão fazendo sacrifícios”, comenta.
