Nos últimos meses da curta licença maternidade qual é a mãe que não pensou em largar o emprego registrado, bonitinho, com todos os benefícios e direitos trabalhistas para ser dona de seu próprio nariz? Ou quantas delas voltam da licença e são demitidas porque após a maternidade “não servem mais para aquela função”?
O empreendedorismo materno acaba sendo a solução para muitas mulheres que querem – e precisam – ter renda e mais flexibilidade de horário para ficar com os filhos. Pesquisas apontam que há entre seis e oito milhões de empreendedoras no Brasil. Em alguns Estados, como São Paulo, as empreendedoras – não somente as maternas – representam mais de 50% dos micro e pequenos negócios.
O problema que ser uma empreendedora não é tão glamuroso e fácil quanto parece. Ter seu próprio negócio não é “um mar de rosas”. Além de gerenciar a sua loja, seu escritório ou qualquer que seja seu trabalho, há ainda os cuidados com os filhos e, é claro, cuidar das finanças e burocracias que todo novo negócio tem.
Ana Fontes, criadora da Rede Mulheres Empreendedoras que presta consultorias, diz que as mulheres que procuram sua ajuda enfrentam uma série de dificuldades, principalmente, para fazer a gestão financeira, networking e também focar e delegar tarefas.
Ana, que é empreendedora desde 2008, conta que a vantagem do empreendedorismo é que ele é inclusivo, ou seja, você pode começar com qualquer idade ou condição social. “Porém, empreender exige muito esforço e dedicação. O sonho de não ter chefe e ter mais tempo é um pouco ilusório, principalmente, no início do negócio”.
Após um ano e meio empreendendo, a publicitária Fernanda Nascimento, 42, concorda. “Precisamos tirar um pouco o glamour que se tornou o empreendedorismo. Você não vai trabalhar menos”, diz Fernanda, mãe de Bernardo, 3, e Vicente, 2.
Ela conta que trabalhava havia oito anos como gerente de marketing em uma multinacional e foi demitida no final de 2013 após gozar da segunda licença maternidade. Fernanda confessa que ficou perdida e sem saber se voltaria a arranjar emprego no mundo corporativo, onde fazia várias viagens internacionais, tinha um bom salário e muitos benefícios.
“Mandei vários currículos, mas o ano de 2014 era bem difícil, tinha Copa, eleições, então, comecei a prestar algumas consultorias de mídia digital. Foi aí que surgiu a minha empresa”, diz Fernanda, que agora está perto de ganhar o mesmo salário que tinha antes trabalhando como consultora de mídia digital.
Ela conta que a família dela sempre foi acostumada a trabalhar no regime CLT e que o empreendedorismo era visto como algo arriscado. “No começo foi difícil porque achava estranho pois empreender não era para mim. Sempre gostei de ter salário certinho todo o mês”, confessa.
Fernanda diz que o resultado não acontece do dia para a noite e que é preciso calcular os riscos para tentar evitá-los. A vantagem, conta ela, é que ao se tornar empreendedora é que tem mais flexibilidade de horário. “Trabalho mais, mas tenho mais flexibilidade. Posso trabalhar uma madrugada, por exemplo, e ter uma tarde livre no meio da semana para ficar com os meninos”, conta.
FAÇA O QUE VOCÊ GOSTA
Ana explica que a primeira dica que dá para quem quer empreender é trabalhar para construir algo que você realmente acredita. “Encontre um diferencial pois sem ele a competição é difícil. Teste seu produto ou serviço antes de investir seus recursos e, se possível, encontre um mentor que lhe ajude nas dúvidas mais complexas”.
A jornalista Vanusa Costa, do Mulheres Querem, tenta ajudar as futuras empreendedoras a descobrir o seu talento para investir naquilo.
Ela comenta que todos nós sabemos nossas qualidades mesmo que inconscientemente. “Todos nós temos talentos maravilhosos e únicos. Se não sabe qual é o seu, pergunte as pessoas de sua família ‘o que eu faço de melhor?’ Você irá se surpreender com tudo que ouvirá”, afirma.
Somente talento, no entanto, não basta. “A grande dica é olhar para dentro de você e perguntar ‘o que eu, realmente, quero fazer? O que me faz feliz?’”, questiona. “Para dar certo, é preciso unir talento e ferramentas de negócio”, explica.
Ela comenta que o empreendedorismo materno ainda tem outra dificuldade pois, além de trabalhar, a mulher muitas vezes ainda acumula os cuidados da casa e dos filhos. Por isso é importante ter disciplina para organizar o horário que irá trabalhar exclusivamente mesmo estando dentro de casa.
Vanusa diz que ao começar a empreender a família se vê obrigada a reduzir as despesas, como cortar a faxineira, evitar viagens e idas a restaurantes, enfim, cortar os ‘supérfulos’ até que o orçamento se equilibre novamente.
Nos seus cursos, Vanusa sempre orienta seus clientes a escolher o motivo certo para ser empreendedor para não desistir no primeiro desafio. “Escolha porque é seu sonho”, orienta.
Para uma mãe, a opção de empreender mesmo que tenha menos dinheiro na conta no fim do mês acaba sendo bom para ter mais tempo ao lado dos filhos. Afinal, após ser mãe muita coisa muda na mulher, entre elas, as suas prioridades, necessidades e valores.
Vanusa comenta que a curta licença-maternidade que no Brasil ainda é de quatro meses para a maioria das mulheres, faz a funcionária retornar muito cedo ao trabalho. “Esta mulher não é a mesma pessoa e, como se isto não bastasse, encontra, na grande parte das vezes, uma empresa que também não está preparada para acolher aquela mãe. Não conhece suas necessidades, não conhece aquela “nova” colaboradora. Falta empatia. Do gestor, dos colegas e – muitas vezes – da própria família”, diz.
A mulher que não dorme pois tem um bebê em casa que demanda madrugada adentro, que ainda mama, não possui mais disponibilidade irrestrita de horário e, é claro, sofre pelo sono que sente ao dormir poucas horas. “As empresas parecem desconhecer tudo isto. Ela pode ser uma funcionária ainda melhor, mais competente do que jamais foi. Mas, o que vejo é que, muitas vezes, ela ganha a “estrelinha de mãe”. Só que é uma estrela que retira pontos, sabe? Parece que deixou alguma competência pra trás. Que não é tão boa mais…” , diz.
As mães, principalmente as com filhos pequenos, não pedem para serem tratadas de forma diferente no mercado de trabalho. “O que pedimos é que sejam utilizados os conceitos de igualdade e empatia. Ou seja, conheça seu colaborador e saiba o que ele tem de melhor. Certamente, ele vai te entregar! E, todos vão sair ganhando. As relações de trabalho precisam ser humanizadas”, ressalta.