Mãe solo: ‘gestar é lindo, parir é intenso, mas criar é treta’

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A ilustradora Thaiz com o filho (Foto: Gabi Trevisan)

A ilustradora Thaiz com o filho (Foto: Gabi Trevisan – Foto Natural)

Cada vez mais mulheres têm coragem de admitir e revelar os perrengues da maternidade real. Se é difícil e solitária a maternidade nos dias atuais, como será então ser mãe solo? Essas mulheres acabam sendo muitas vezes sofrem preconceitos e muitas dificuldades pois carregam um verdadeiro caminhão nas costas ao criar os filhos sozinhas.

Algumas contam com a participação parcial dos pais das crianças enquanto outras criam sozinhas já que existem homens que não estão dispostos a participar – nem financeira nem emocionalmente – da vida dos filhos. Sozinhas, elas precisam contar com uma rede de apoio presente e diária para conseguir trabalhar, ter alguns momentos de lazer, cuidar da cria, enfim, levar uma vida o mais normal possível mesmo com tantas responsabilidades e tarefas.

A designer e ilustradora, Thaiz Leão, 26, tem um filho de dois anos e deixa ele seis horas na creche para conseguir trabalhar. Depois que ele dorme, ela conta que fica mais um tempo trabalhando para dar contas dos compromissos e conseguir rendas extras com freelas.

Ela diz que ficou grávida em uma relação casual e o pai em alguns momentos quis participar da vida do filho e, em outras, não. “Levei a gravidez numa boa, pari em casa, cercada de várias mulheres”, comenta. Thaiz diz que o pós-parto, no entanto, foi assustador. “Vi uma mãe nascendo e uma mulher morrendo, sem a oportunidade de fazer as duas conviverem juntas. Fui levando as noites mal dormidas como dava. A tristeza e o cansaço batiam a porta, mas era todo dia tanta coisa pra bancar que as coisas acabavam seguindo no automático e eu ia encontrando energia onde dava pra ir em frente”, diz.

Thaiz decidiu então criar o projeto Mãe Solo, que mostra com ilustrações divertidas o lado B da maternidade. Assim como Thaiz, muitas mulheres criam sozinhas os filhos, ou seja, tem pouco ou quase nada de apoio efetivo e financeiro dos pais das crianças. “Costumo dizer que gestar é lindo, parir é intenso, mas criar que é treta”, brinca.

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PRECONCEITOS

A ilustradora conta que as mães solo enfrentam muitos preconceitos da sociedade. “‘Abre as pernas para qualquer um e depois não aguenta o tranco’. É o tipo de coisa que escuto”, diz a ilustradora. Para ela, ser mãe e estar sem o pai da criança é como pendurar um crachá no peito dizendo “sou mulher e já dei”.

Ela diz que conhece muitas mães solos que não conseguem trabalho, nem alugar uma casa, enfim, não conseguem coisas básicas para sobreviver.

Thaiz comenta que a sociedade muitas vezes faz ela sentir como se tivesse falhado como ser humano. “Olho para o meu filho e para a mulher que me tornei e penso: onde eu falhei?  Aqui está tudo certo, os outros que teimam em achar que está do jeito errado”, comenta. Ela diz que ser solteira é tranquilo, mas que estar sozinha é difícil. “A rotina nos consome e a gente vai se anulando”, diz. Para ela, momentos de lazer é quando consegue assistir um filme ou seriado.

Thaiz conta que faz o Mãe Solo em seu tempo livre. “No começo fazia pra compartilhar minhas vivências como mãe sem idealizações com meus amigos. A coisa foi reverberando na vida de outras mães e hoje, com dois anos de Mãe Solo, eu busco manter acesa a discussão sobre o lado menos romântico da maternidade”, diz Thaiz, que conta com mais de 55 mil seguidores no Facebook. Agora, ela conta que criou um financiamento coletivo para conseguir lançar um livro com as suas principais tirinhas e um portal com o seu trabalho. O financiamento conta com várias metas e é possível contribuir com vários valores a partir de R$ 20. Conheça mais sobre o projeto clicando aqui.

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