
A médica Ana Escobar, que faz parte do programa Bem Estar, da Globo, gerou polêmica ao postar em seu site um texto onde desencoraja a amamentação prolongada.
No texto, a médica diz que o peito não deve ser usado como “chupeta” e que o “leite deve ser utilizado como um alimento e não como um ‘relaxante’. Evitem que seus filhos mamem para dormir ou quando estiverem ‘estressados’ e chorando de ‘birra’ por alguma coisa”, diz o texto. A médica ainda comenta que o peito “deve ser entendido como uma fonte de nutrientes e por isso deve ser dado em momentos específicos do dia, como uma refeição normal”.
“As crianças não devem criar uma ‘dependência’ psico emocional do peito. Precisam se sentir ‘independentes’ da mãe, neste sentido. Depois de 2 anos, não há mais necessidade do peito como fonte de nutrição”.
Muitas mães e profissionais de saúde criticaram a postagem no site da médica que tinha como título: “A amamentação prolongada é recomendada? Até que idade devo amamentar meu filho?”. A repercussão negativa ocorre, principalmente, por levar uma informação errada aos seus milhares de seguidores. A reportagem procurou a assessoria de imprensa da médica para comentar o assunto, mas não teve retorno até a publicação deste texto.
Em sua página no Facebook, a médica publicou um texto se justificando e dizendo que é “fervorosamente a favor do aleitamento materno”. “Quis dizer no post que se há sinais de quaisquer desconfortos em uma das partes; por exemplo, a mãe está cansada com a frequência excessiva com que o filho vem mamar não nutritivamente – e isto pode, sim, acontecer- então cada dupla merece uma orientação, posto que o ATO de amamentar pode se desvencilhar da boa e essencial aura de tranquilidade e paz que o cerca. A decisão, reitero, cabe sempre à dupla mãe e filho, sem deixar de considerar, claro, o restante da família”. Confira o post completo da médica clicando aqui.
O Mães de Peito procurou a especialista em amamentação pelo IBLCE ( International Board of Lactation Consultant Examiners), a psicóloga Bianca Balassiano, para responder essa questão. Afinal, até quando o bebê deve ser amamentado?
“Não existe resposta de quando é a hora de desmamar. Cabe a cada dupla [mãe e bebê] decidir. São situações muito individuais que precisam ser analisadas e não dá para encaixar em um roteiro padrão”, comenta. Vale relembrar que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e de forma complementar até os dois anos ou mais. Os benefícios da amamentação são inúmeros, entre eles, maior vínculo, a criança fica menos doente, desenvolve menos alergias, entre outros benefícios.
Bianca diz que o texto da médica é muito “infeliz” pois resume o peito somente como uma fonte de alimento. “O peito nutre, mas também aproxima a mãe do bebê, onde ela consegue atender a todas as solicitações que ele procura, não só calórica, mas emocional, física e psíquica”, explica.
Uma criança de um ano e meio, por exemplo, muitas vezes vai recorrer ao peito mais do que um recém-nascido. Bianca explica que essa criança passa a ter um relacionamento diferente com o peito, que não só alimenta, mas é conforto, segurança, enfim. Se a criança tem 2, 3, 4 anos isso pouco importa. “Se a mãe e o bebê estão bem com a amamentação, tudo bem. Não é papel do profissional intervir se não há nenhuma queixa materna”.
O médico catalão Carlos González diz em seu livro “Manual Prático do Aleitamento Materno” que a “amamentação prolongada não causa nenhuma doença psicológica nem física à criança ou à mãe e, por isso não se justifica recomendar e muito menos impor o desmame em uma idade determinada”. Ele ressalta também que perto dos dois anos, a criança mama com mais frequência pois “não mamam só para comer, mas buscam contato, consolo e segurança”.
O bebê ou a criança procurar o peito se está com sono, se caiu e se machucou ou se ficou triste com algo é absolutamente normal. “Isso não é reconhecido socialmente, mas é absolutamente normal. Só é anormal quando não atende uma das partes. Se mãe e bebê estão felizes, tudo bem”.
Bianca comenta ainda que sobre fazer o peito de “chupeta”, como diz Ana Escobar, é algo natural. “Eles ficam no peito não só por conta da sucção nutritiva, mas também da não nutritiva para atender a sua satisfação oral”.
A especialista em amamentação diz também que é muito natural o bebê ou a criança procurar o peito para dormir. “Traz relaxamento, além de facilitar esse momento para a mãe, mas é natural que quando a criança vai crescendo que vá ganhando mais independência e desenvolve outros recursos para dormir ou quando tem uma desilusão. Quem vai desenvolver essas novas ferramentas é a dupla mãe e bebê”, afirma.
A psicóloga ressalta que a questão do desmame precisa ser falada pois muitas mães têm dificuldades para desmamar. Mas, que são poucas que ainda chegam a chamada amamentação prolongada. “As mães que não caem nas falácias e não desmamam logo no início, também precisam de ajuda para lidar com as questões emocionais próprias para evoluir na amamentação”.
A consultora diz que não necessariamente é preciso fazer um desmame, mas uma regulada nas mamadas, enfim, cada caso precisa ser analisado individualmente olhando a realidade de cada mãe e bebê. Ela comenta que existem crianças com três anos que ainda mamam, mas que consegue lidar muito bem com as situações da vida sem o peito. “Só é preciso interditar em algo, quando a mãe não quer mais. Precisamos de textos que não culpabilizem a mãe pois não é o melhor caminho. Precisamos ser menos pragmáticos e mais empáticos com as mães”.
14 Comentários
Creio que este tipo de pensamento se filia a uma tradição individualista, que defende a “preparação” do indivíduo para um mundo competitivo, onde ele deve ser independente. Tal visão, hegemonica nos EUA, acaba sendo difundida e ganhando adeptos, que jamais se questionam se este “mundo competitivo” é a única alternativa ou se não deveríamos pensar em transformações profundas de um mundo que já deu tudo (de errado) que tinha que dar. É muito comum esta visão entre médicos, inclusive (talvez sobretudo) entre os mais renomados, professores de grandes universidades, palestrantes famosos.
Sim!
Também penso assim!
O medo da interdependência e a necessidade de se destacar são tão grandes que subvertem nossa natural busca de amor e conforto junto a nosso semelhante, visto, antes de tudo, como inimigo.
Hoje em dia as pessoas na sua grande maioria se influênciam facilmente com a recomendação de um especialista. No entanto, creio que esta senhora (especialista ) levou em consideração uma grande parte da sua opinião pessoal .
Concordo plenamente com a médica.
Boa tarde, gostaria de saber o contato da profissional Bianca para que me ajudasse no desmame do meu filho.
“Não deixe seu filho fazer seu peito de chupeta”. É melhor colocar um pedaço de borracha na boca dele pra se acalmar do que oferecer seu peito que vai junto com colo e carinho. Com certeza essa senhora não é especialista em amamentação.
“…fazendo de “chupeta…”
“O leite deve ser utilizado como alimento, não como “relaxante””…
“… “dependência” psico emocional do peito”…precisam se sentir “independentes”…”
Que “doença psico emocional” acomete nossa sociedade que faz com que se menospreze as necessidades emocionais de uma criança como algo de menor valor? Porque é tão insuportável a idéia do corpo da mãe como fonte de segurança e felicidade?
Em que momento passamos a temer o vínculo e a interdependência inerentes à nossa condição humana?
A dependência psico emocional da criança em relação ao corpo e ao seio materno é completamente normal e esperada e, para mim, só o trauma da separação forçada explica a patologização da nossa natural necessidade de conforto, primeiramente junto à mãe e, posteriormente, junto ao outro!
Belas e sábias palavras!
Resumindo a ópera: “desserviço”.
Parabéns !!!Doutora Ana Escobar,muitas mãe tem preguiça de fazer comidinha pra seu filho ,ou de levantar a noite pra acalenta -o, quando um profissional de muitos anos de experiência da sua opinião, aí encomoda muita gente,cada um tem direito de falar o que pensa,e fazer o que quiser….😘
A amamentação é muito importante para o desenvolvimento do Bb.
Uma criança com 3 anos já não é mais Bb.
E deve aprender a mastigar , pois já tem dentes suficientes para isso.
E carinho e proteçao uma mãe pode dar de outra forma.
Mais importante até do que desfazer o mito, sem base científica, de que a amamentação prolongada causa prejuízo emocional, é corrigir esta senhora a respeito de alimentação complementar. Aos 6 meses, a alimentação complementar é a sólida (não sopas batidas, que não são mais recomendadas). O leite materno é ainda a principal fonte de nutrientes nesta fase.
Não vi nada demais no texto da pediatra, e concordo plenamente com ela pois estou vivendo o que ela escreveu, justamente por amamentar para dormir, para conseguir viajar de carro, para desestressar a cria ( de 1 ano e 4 meses) enfim, pra tudo! A conclusão disso tudo é uma mãe exausta, apática e um bebê superapegado a figura materna e que desdenha o pai. Sou a favor da amamentação, mas com uma visão equilibrada! Afinal, como fica a mãe nisso tudo? Precisamos nos desfazer de nossas fantasias de onipotência com os nossos bebês.
Obrigada por este comentário. A amamentação prolongada pode ser benéfica, mas também pode ser sinal de doença ou risco psicológico para a criança.