Quantas e quantas mulheres são vítimas de assédio sexual nas ruas, dentro dos seus trabalhos ou até em suas próprias casas pelos companheiros? No Dia das Mulheres muito se fala sobre a delicadeza da mulher e como elas são lindas e precisam ser ‘homenageadas’ neste dia, mas o que toda mulher quer não é chocolate nem flores para lembrar o quanto ela é especial. Toda mulher quer e precisa ser respeitada. Não apenas no dia 8 de março, mas todos os dias.
Dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres, do governo federal, mostram que em 2015 houve aumento de 136,6% no número de denúncias de violências sexuais (estupro, assédio, exploração sexual) para o Ligue 180, canal de orientação sobre direitos e serviços públicos para as mulheres. Ao todo, foram registrados, em média, 10 registros por dia de violência sexual.
Para falar mais sobre o assédio sexual e mostrar que muitas mulheres têm dificuldades para falar sobre isso, a documentarista Paula Sacchetta, 28, estará nas ruas de São Paulo durante toda semana para gravar depoimentos das mulheres que sofrem ou sofreram assédio sexual. Paula explica que tudo será filmado dentro de uma van do documentário “Precisamos falar sobre assédio” e que a mulher pode se identificar ou não.
“Teremos máscaras para quem não quiser se identificar. Cada uma tem um significado e a vítima escolhe qual usar. O medo é representado pela amarela, a raiva pela vermelha e a roxa e azul são vergonha e tristeza, respectivamente”, diz. Também haverá a possibilidade de um recurso para distorcer a voz de quem teme ser identificada.
“A ideia é que a mulher fique à vontade na hora de dar o depoimento. Elas podem ter muitos motivos para não querer mostrar o rosto e querer preservar a identidade”, afirma Paula que espera coletar relatos de assédios como cantadas na rua até denúncias de estupros e outras violências sexuais.
ONDE OCORREM AS FILMAGENS
Para tentar registrar um público diversificado, a equipe de filmagem ficará em diferentes locais a semana toda das 8h às 18h. Não há limite de quantos relatos vão coletar. Nesta terça (8) a van estará na praça do Patriarca e na quarta (9) a gravação será em Itaquera, na zona leste (veja quadro abaixo com toda a programação). Para saber mais informações clique na página do projeto no Facebook.
Paula conta que a ideia do documentário surgiu depois das campanhas virtuais que lotaram as redes sociais no ano passado, entre elas, #meuprimeiroassedio e #agoraéquesãoelas. “Percebemos a necessidade de se falar mais e mais desses temas, de todo tipo de violência contra a mulher, da mulher falar cada vez mais pelo que passa todos os dias e aceitar esses tipos de violência cada vez menos. Ficamos com vontade de fazer um projeto que tirasse isso das redes sociais e começasse a ocupar os espaços da cidade”, relata.
Paula diz que os depoimentos serão editados em um longa que será exibido em projeções simultâneas e ao ar livre. Além disso, todos os depoimentos ficarão disponíveis na íntegra no site Precisamos falar sobre assédio assim como o vídeo longo editado.
Paula diz que por conta da sociedade machista em que vivemos, muitas mulheres têm vergonha de assumir que foram vítimas de assédio ou violência sexual. “A mulher vítima pode chegar, inclusive, a ser tachada de culpada pela própria violência que sofreu, além de se sentir ‘suja’ de alguma forma por isso. Assim, muitas preferem ficar caladas e invisíveis e acabam sofrendo o trauma sozinhas”.