
Uma propaganda da marca de leite artificial Aptamil Active promete “menos tempo de choro e mais tranquilidade para os pais”. A divulgação do produto, de responsabilidade da empresa Danone, diz ainda que o leite deve ser oferecido em caso de choro excessivo e irritabilidade.
Procurada pela reportagem, a Danone diz que o material de comunicação divulgado é destinado “exclusivamente aos profissionais de saúde e é sustentado por estudo científico publicado em revista especializada de relevância internacional, totalmente em linha com a legislação brasileira. Vale ressaltar que a comunicação do produto é baseada em estudo com lactentes que não estavam em aleitamento materno, em que se comparou uma fórmula infantil padrão administrada conjuntamente com medicação à base do princípio ativo simeticona e o produto Aptamil Active ProExpert, cuja formulação não contém qualquer tipo de medicação”.
A Danone diz ainda na nota que o leite materno é o melhor alimento para os lactentes e até o sexto mês deve ser oferecido como fonte exclusiva de alimentação, podendo ser mantido até os dois anos de idade ou mais. “Vale lembrar ainda que a prescrição de fórmulas infantis é de competência exclusiva de médicos e/ou nutricionistas”, diz a empresa.
Ativistas da amamentação, no entanto, reclamam da propaganda pois dá a entender aos pais que ao consumir o leite, o bebê vai chorar menos e ficar mais tranquilo.
No instagram do Filme “De Peito Aberto” – documentário que mostra as dificuldades da amamentação e a influência da indústria e da sociedade para o desmame precoce – diz que a publicidade promete resolver “o problema do choro” como se fosse fácil como apertar um botão. “Ouvir seu filho chorando é arrasador. E aqui usam essa fragilidade para decretar com uma linguagem científica a incapacidade da mulher”, critica.
No Brasil, existe a NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeira) que é um conjunto de normas que estipula uma série de regras para a promoção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos voltados para crianças de até três anos, como leites, papinhas, chupetas e mamadeiras. Ela foi criada com o objetivo de garantir que esses produtos não interfiram na prática do aleitamento materno.
É por conta da NBCAL, por exemplo, que você não vê propaganda de chupeta e mamadeira na TV, por exemplo. Já os rótulos das embalagens e as propagandas de leite devem diferentes alertas, entre eles: “AVISO IMPORTANTE: Este produto não deve ser usado para alimentar crianças menores de 1 (um) ano de idade. O aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendado até os 2 (dois) anos de idade ou mais.”
Além da NBCAL, a lei 11.265/06 e o decreto 8.552/15 estabelecem que também é proibido dar amostra ou fazer doação de produtos como fórmulas infantis, chupetas, bicos e protetores de mamilo. No entanto, as grandes marcas de leite artificial conseguem brechas para fazer a divulgação de seus produtos, por exemplo, entre médicos e influenciadores digitais.
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