
A Sociedade Catarinense de Pediatria lançou uma campanha polêmica onde desencoraja as mulheres a ter um parto domiciliar. A campanha “Pelo Nascimento Seguro” diz que a mulher pode ter um parto humanizado desde que ele seja hospitalar e com os equipamentos necessários para oferecer mais segurança ao bebê. A campanha, no entanto, tem sido criticada por profissionais que atendem partos domiciliares e por mulheres que optaram pelo parto em casa.
Como já foi mostrado em reportagem do Mães de Peito, o parto domiciliar é voltado para gestantes de baixo risco e que querem ter um parto em casa justamente para fugir dos protocolos hospitalares, como exames de toques rotineiros e procedimentos que muitas vezes são desnecessários nos recém-nascidos, como aspiração e aplicação de colírio, por exemplo. LEIA MAIS: quais são os procedimentos dispensáveis e quais são necessários no recém-nascido.
Para a Sociedade Catarinense de Pediatria a justificativa da campanha ocorre porque pode ser necessário manobras de reanimação no bebê e isso deve ser feito, segundo a sociedade, no hospital. Procurada para comentar a campanha, a Sociedade Catarinense de Pediatria não se manifestou até a publicação desta reportagem.
A obstetriz Ana Cristina Duarte diz que a campanha não leva em conta que nos partos domiciliares planejados são levados equipamentos de reanimação neonatal. “Também temos duas profissionais de nível superior capacitadas para os passos de reanimação neonatal. Além disso, o parto domiciliar está reservado a gestações de risco habitual, o que exclui os maiores fatores de risco para a necessidade de reanimação: prematuridade, malformações, doenças congênitas, alto risco materno, entre outros”, explica.
Para ela, a campanha não resolve o maior problema das mulheres hoje ao procurarem um parto hospitalar. “Se forem para o setor privado, terão 90% de chances de uma cesariana. Se forem para o setor privado, terão um parto repleto de procedimentos com a mãe e com o bebê, sem nem ao menos as regras básicas da Sociedade Brasileira de Pediatria obedecidas”, comenta. A obstetriz diz ainda que é “curioso” falar para as mulheres procurarem um parto humanizado hospitalar. “Na realidade ele não existe”, afirma.
A pediatra Joana Marini teve dois partos hospitalares e optou em ter a caçula em casa. “Tive duas experiências nada humanizadas em hospital mesmo tendo ginecologista particular, quarto privativo e tudo pago a parte pelo convênio”, comenta Joana, que teve seu bebê em um hospital de Campinas, no interior de São Paulo. Ela lembra que no primeiro parto, em 2005, era vítima de chacota dos enfermeiros e de outros profissionais sendo a “idiota que está tentando parto normal e que não sossega e fica andando”. No segundo parto, em 2007, a experiência também foi ruim ficando sozinha a maior parte do trabalho de parto e ainda ofereceram leite de fórmula ao bebê sem o seu consentimento.
“Escolhi ter minha filha em casa pois já tinha aprendido a duras penas que humanização do nascimento e hospital (especialmente particular) não é nenhuma garantia, pelo contrário”, conta Joana, que teve um parto domiciliar no final de 2009.
A pediatra comenta que em várias cidades é muito raro conseguir atendimento hospitalar humanizado. “Somente se você puder arcar com uma equipe própria que vai lutar por isso ao seu lado. Plantão é sempre ‘linha de montagem’ e uma mentira deslavada que há humanização nele”, afirma.
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E se a criança precisar ser intubada e necessitar de drogas vasoativas? São levadas fontes de oxigênio também? Quem faz a DNV? É possiveis lacerações em canal de parto secundárias a passagem do bebê?