Pai precisa ser mais do que um “pai de selfie”

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Piangers com as filhas Anita e Aurora (Foto: Gisa Sauer)

Piangers com as filhas Anita e Aurora (Foto: Giselle Sauer)

Ele vê o filho só de 15 em 15 dias ou mora na mesma casa e participa pouco – ou quase nada – da criação dos filhos. Não vai às reuniões da escola, não leva a cria no pediatra nem troca as suas fraldas. “Existem muitos pais que são o pai de selfie, que tiram fotos, botam no Facebook e ganham muitas curtidas e só”, diz o escritor e jornalista, Marcos Piangers, 37.

Autor do livro O Papai é Pop e pai de duas meninas, ele diz que muitos homens fogem do que ele chama de “momentos de treta”, que é quando o filho adoece ou simplesmente nos desafios diários de cuidar de um bebê ou de uma criança. “O homem foge da treta, por medo e porque ele pode. A mãe também tem medo, tem vontade de correr, tem depressão pós-parto, também não nasceu preparada para ser mãe. Só que ela está lá nos momentos mais difíceis enquanto o homem se considera no direito de fugir”, relata Piangers.

Segundo ele, muitos conhecidos preferem fazer hora extra no trabalho – sem necessidade – para chegar em casa somente quando os filhos já estão jantados, de banho tomado e com os dentes escovados. “Isso é injusto com a mãe, com a criança e com o próprio pai que seria apresentado a uma outra oportunidade de realização. As mulheres precisam se posicionar e exigir dos companheiros. Já os pais precisam lidar com esse medo, insegurança. Isso tem que ser vencido”, diz o escritor, que sugere às mães sair de casa e deixar o pai que não participa dos cuidados em um momento de treta  para se virar sozinho dando banho ou o jantar, por exemplo.

Ele comenta que independente dos pais morarem debaixo do mesmo teto, a guarda deve ser compartilhada dentro e fora do casamento. “Sua esposa já passou por muitas coisas. Você pode ajudar mais em casa, fazer mais do que costuma fazer. O homem sempre vai achar que está fazendo o suficiente, que está fazendo mais que a obrigação, mas ele sempre faz menos que a obrigação”, ressalta.

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Piangers nota que existem muitos pais ativos na criação dos filhos, que é um movimento crescente, mas que ainda são poucos. “Existem configurações diferentes de famílias agora do pai em casa cuidando dos filhos enquanto a mulher se realiza profissionalmente, por exemplo. Mas, ter pai ainda é luxo. São quase 6 milhões de crianças que não tem o nome do pai na certidão. Outras têm o nome, mas são pais que abandonaram a família ou que não são participativos. É um processo árduo e complicado e, por isso, é preciso falar, incentivar os homens, mostrar o caminho para terem mais famílias estruturadas e a situação enfim poder mudar”, diz.

Piangers relata que também há muitos sinais sociais que excluem o pai da participação dos filhos, onde ele não é incentivado a participar. “Não tem fraldário nos banheiros masculinos, não tem boneca que diz ‘papai’, os recados da agenda da escola são direcionados só para a  mãe, são as mães que estão na reunião da escola, que estão em eventos sobre criação de filho. Enfim, parece que o homem é um intruso. Isso é prejudicial para a mulher pois a pressão fica toda em cima dela. É prejudicial para a criança que não tem a participação efetiva do pai e para o homem que não pode ser afetuoso, demonstrar seus sentimentos”, comenta.

ABANDONO É LEGALIZADO

A mudança, opina o escritor, tem que ser maior vindo, inclusive, com ações do governo, leis. etc. Para começar, comenta o jornalista, é preciso repensar a licença paternidade que, para a maioria dos pais, é de apenas cinco dias. “Precisamos cobrar os pais e existirem leis, multas e até  cadeia para aquele que abandona. O aborto é ilegal no Brasil, mas o abandono é comum, que é uma negação da paternidade, uma espécie de aborto masculino”.

Pai de Anita e Aurora, o jornalista conta que a  primeira gestação não foi planejada e que, apesar de ser jovem (tinha 23 anos à época) não fugiu de sua responsabilidade. Ele conta que  estava com a mãe das meninas, Ana, há pouco tempo. “A gente não sabia se queria ficar junto para o resto da vida, se era a hora certa de engravidar, de ter um filho, se financeiramente a gente conseguiria. Enfim, rolou toda insegurança que ronda a cabeça dos pais em qualquer época da vida  e, principalmente, quando você é novo e não planejou a gravidez”, relata.

Piangers conta que nunca conheceu o pai – que ele se recusa a chamar de pai – por ter abandonado sua mãe e não ter participado de sua vida. “Não o considero meu pai. Ele teve uma participação ali genética, mas não é meu pai. Meu pai foi minha mãe, minha sogra, minha esposa. Família é afeto, não é DNA, nem sobrenome, nem parentesco. Família é onde se sente abraçado.”

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